Apesar de ser vizinha da Jamaica e estar a apenas uma hora de voo de Miami, as Ilhas Cayman são um destino praticamente desconhecido para os brasileiros. De acordo com o Departamento de Turismo das Ilhas, em 2011 apenas 680 brasileiros passaram por aqui. Praticamente nada, ainda mais se considerarmos a quantidade crescente de turistas do nosso país ao redor do mundo.
Pois então, eu vim pra esse complexo de três ilhas – Grand Cayman, Cayman Brac e Little Cayman-, com cerca de 55 mil habitantes, sem nenhum tipo de imposto territorial ou de renda, galinhas e galos soltos nas ruas como se fossem cachorros, baladas que fecham à meia noite (destino MEGA familiar/casal), mais de 100 restaurantes com cartas de vinhos maravilhosas e um mar de tons absolutamente incríveis de azul e verde. De embasbacar, mesmo.
Tive a sorte de chegar no primeiro dia da temporada de conch, uma das iguarias mais típicas e consumidas por aqui. Tem lugar que é famoso por suas ostras; outros, pela lagosta. As Ilhas Cayman tem, pelo que me disseram, as melhores conch do Caribe.
Pegamos um barco e fomos pra bem longe da costa, mergulhar com arraias (lindas demais, calmas, acostumadas com humanos), pegar conch e comê-las, ainda fresquíssimas, recém-saídas do oceano. Conch é um molusco/lesma do mar (primo do escargot, que também é uma lesma) que habita o interior de uma grande e bonita concha encontrada em quase toda as Ilhas Cayman. Dentro dela, um bicho bizarrão, meio pré-histórico, com dois olhinhos saltados que provocam uma certa pena e carne branquíssima e firme. Podem ser “pescadas” apenas de 01 de novembro a metade de abril, somente 10 unidades por barco: uma conta X foi feita para que fosse possível suprir a necessidade dos restaurantes e, ao mesmo tempo, preservá-las.
Eu fui a única pessoa que pediu pra comer o ser completamente cru e sem tempero (sou curiosa, oras!), cortado em fatias, como um sashimi. A maioria das pessoas fez cara de nojo/pânico/terror/horror completo ao ver o bicho retirado de sua casa. Bobagem! Os feios podem ser bem gostosos.
Cru, sua textura é bem crocante (o que me surpreendeu pacas) e seu sabor super adocicado, lembrando bastante a carne de caranguejo. Assim que chegamos a uma praia, nosso marinheiro picou o conch em pedaços pequenos, marinou em limão e misturou com pimentão e molho jamaicano condimentado e nos serviu com bolachas tipo cream cracker- ali o molusco já tinha adquirido uma textura mais parecida com caranguejo. Bem interessante.
Mas o que gostei mesmo foram os pratos de conch que provei no Cabana, restaurante à beira-mar, ao lado do mercado do peixes de Grand Cayman. Simplão, mesas de madeira e dezenas de pássaros pedindo restos do meu prato, o Cabana serve comida típica de Cayman- ou seja, peixes fresquíssimos, frutos do mar, fruta-pão, conch- a preços mais baixos que na maior parte da ilha. Eu poderia levar a pipoca de conch pro cinema e ficar petiscando por horas a fio – pequenos pedaços do molusco empanados em farinha de milho temperada e fritos, servidos com maionese de Jerk, mistura de condimentos jamaicanos, com acento apimentado. Bons, mas não tanto, os bolinhos de conch, servidos com o mesmo molho.
Depois de me “conchar” toda, fui pra praia dar uma espreguiçada e ser feliz fazendo nada. Olha, entendo porque a galera manda dinheiro pra esse paraíso fiscal: não é nada mal vir aqui fazer umas visitas aos próprios dólares.
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