O Gastrolândia ficou sete dias sem atualização pela melhor razão que pode existir: férias. Peguei 10 dias para ir para um ponto do mundo que sempre tive vontade de conhecer (e comer), a Turquia. Meu roteiro, por ser curto, incluiu só dois lugares: 7 dias em Istambul e 3 em Bodrum, no litoral.
Como sempre, me preparo com meses de antecedência. Pergunto para muita gente aonde comer comida de verdade e não gororoba de turista e o que não deixar de fazer de maneira alguma. Nessas pesquisas loucas do Google, acabei entrando no site Delicious Istanbul. Li, curti a linguagem e o jeitão dele e decidi escrever para a autora, Olga Tikhonova, pedindo algumas dicas– ela também organiza tour gastronômicos pela cidade. Olga, pronta e gentilmente me respondeu com a lista mais preciosa que alguém já me passou. Sério, só endereços incríveis. Depois falarei aqui de outros deles, mas agora quero me dedicar a um, o Murat Kelle Paça.
Enfiado numa das dezenas de ruas laterais do bairro mais boêmio de agitado de Istambul, Beyoglu, o Murat Kelle Paça é um endereço espanta-turista: fachada simplona, decoração broxante, cara de pé-sujo, só moradores comendo imensos pratos ou tigelas astronômicas de sopa. Nenhum charme, nenhum hype. Aí é que está o engano: segundo a própria Olga, lá se faz o melhor shish kebab da cidade. Ela não poderia estar mais certa.
Apesar de não ter comida dezenas de shish kebabs, durante estes dias mandei vááááários. Essa variação de kekab no espeto é muitíssimo consumida na Turquia, ao lado do döner, o que chamamos de “churrasco grego”. No shish, a carne é marinada naquela mistura mítica e secreta– cada casa tem a sua– de especiarias e depois posta para grelhar no carvão. No Murat, o que mais me deixou impressionada é o frescor dos ingredientes: mais da metade do menu, e todas as saladas, são preparadas na hora, na sua frente, na minúscula cozinha aberta para o salão. Cozinha, não, balcão. O menu de sopas– a de pé de carneiro é uma das mais consumidas– é grande, além de oferecerem 7 tipos de kebab, incluindo de cordeiro, frango, boi e FÍGADO.
Taqueospa. O que é o de fígado?! Um prato imenso chegou, lindo, cheiroso, colorido. Embaixo de tudo, pão assado na hora. Em cima deles, vários espetos contendo pedaços lindos, crocantes por fora, de fígado. Ao lado, pimenta e tomate também feitos no espeto e um trigo bulgur preparado com especiarias e pimenta de enlouquecer qualquer cidadão. Come-se assim: pega-se um pedaço de pão, envolve-se a carne e a retira do espeto. Então coloca-se um pouco de uma espécie de vinagrete de tomate com xarope de romã, enrola-se e… o melhor kebak da galáxia!!!!!! Intenso, com a mistura complexa e harmoniosa de sabores explodindo até o cerebelo. Daí, para amenizar o calor, um gole de ayran, bebida feita de iogurte diluído em água gelada e um toque de sal.
O Murat foi o único restaurante no qual comi duas vezes. Fiz questão de fazer nele minha última refeição em Istambul– era aquele sabor simples, tradicional e intenso queria levar na memória. E trouxe.
PS: cada um desses pratos gigantes, acompanhados de salada e vinagrete, custam entre 15 e 18 liras turcas, o equivalente a 15 e 18 reais.
Murat Kelle Paça: Katip Mustafa Çelebi Mah. Büyükparmakkapı Sok, 5, Beyoglu
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