Nos últimos dois anos conheci algumas cidades alemãs – Beelitz, Baden-Baden, Landau, Friburgo, Berlim, Burg, entre outras – e sou sincera em dizer que Munique é a minha favorita. A mais alegre, vibrante, verde, divertida. A capital da Bavária tem profunda tradição cervejeira, imensos e belíssimos parques, povo acolhedor, astral cosmopolita e interiorano numa combinação profundamente agradável. Meu tipo de cidade.
E é da Bavária a gastronomia alemã que nós, brasileiros, estamos mais acostumados, como a dupla salsichão-cerveja (algumas áreas do país são profundamente ligadas a vinho e praticamente não consomem este tipo de embutido), além de ser lar de um dos eventos mais famosos do mundo, a Oktoberfest. Mas esqueçamos por um momento a Oktoberfest: a cidade tem tanta, mas tanta coisa interessante, que seria injusto reduzi-la a isso.
Uma das maiores atrações de Munique são os biergarten, grandes jardins repletos de bancos comunitários nos quais o público (jovens, velhos, famílias, turmas, gente sozinha) vai para comer, conversar e tomar cerveja. Alguns até permitem que o cliente leve a própria comida – apesar de todos terem grande variedade – e curta o dia com a família, ouvindo música ao vivo e, em casos especiais como o da Copa do Mundo, assistindo programação esportiva nos telões. Turistas são apenas uma pequena parcela dos frequentadores, majoritariamente moradores locais.
De todos os que fui, o que mais me agradou foi o Seehaus im Englischen Garten, localizado dentro do maior parque urbano da Alemanha (umas 10 vezes o tamanho do Ibirapuera), à beira do lago no qual deslizam patos e pedalinhos.
O parque é o exemplo da capacidade de Munique abraçar diferentes povos e culturas: enquanto andava por lá, passei por áreas dedicadas a cães e seus donos, à famílias com crianças pequenas, à alemães ansiosos por tomar o sol do verão, à nudistas mais ansiosos ainda pelo calor. No meio disso, muçulmanos fazendo suas preces, músicos de grande talento tocando jazz, milhares de bicicletas indo e vindo. Tudo na mais perfeita paz.
Outros biergarten bacanas: Chinesischer Turm e, o maior de todos, Hirschgarten , com espaço para 8000 pessoas sentadas. Coma muito, muito mesmo, os tradicionalíssimos e deliciosos pretzels, vendidos em unidades gigantescas e que casam felizões com as grandes canecas das excelentes cervejas: barato e bom pacas. Taí algo que me entristece não termos por aqui.
Viktualienmarkt: mercado de produtores para passear todos os dias pela manhã
Deixando a cerveja de lado – por pouco tempo! -, um dos passeios mais agradáveis em Munique, para quem gosta de comer, é o Viktualienmarkt, mercado de pequenos produtores que acontece diariamente, pela manhã. Se você curte, como eu, jantares improvisados no hotel e dedicados às iguarias locais, ali é o Éden.
Hortifrutis orgânicos, queijos alemães/franceses/italianos, charcutaria, barras de sucos naturais e sandubas, temperos… Em seu entorno, a sensacional Fisch-Witte , loja especializadas em pescados e frutos do mar que também funciona como restaurante. Pode-se comprar dezenas de espécies de peixes frescos/defumados, pratos feitos na hora com o ingrediente tirado naquele instante da vitrine e pratos prontos para levar. A variedade e qualidade de itens é de fazer salivar e querer sair correndo pra encontrar uma cozinha.
Também pertinho está o Tiroler Bauernstandl , mercado dedicado aos produtos tiroleses como carnes curadas , queijos, pães, geleias, vinhos e sucos.
Ah, sim: alemães são apaixonados por café de qualidade. Em minha estada na Alemanha, provei alguns tão, mas tão melhores, que os italianos… Grau de torra, qualidade do grão, método de extração. Tudo. Microtorrefadores e cafeterias estão aparecendo em diversas cidades do país, como é o caso da Mahlefitz Münchner Präzisionskaffee, em Munique.
Em conversa com o proprietário – um jovem apaixonado pelo café brasileiro de qualidade – dá para notar o cuidado existente ali em todas as etapas do processo, inclusive na importação de grãos verdes que passam, ali, por torra clara para manter todas as características da variedade. O resultado? O melhor cold brew que já tomei, servido em belíssimo copo de cristal com uma imensa pedra de gelo para evitar aguar o café: quanto maior o gelo, mais lentamente derrete.
Entre as novidades gastronômicas da cidade estão os restaurantes Jack Glockenbach e Kleinschmecker. O primeiro serve excelentes pratos vietnamitas – preparados por vietnamitas – como o saboroso Noodle de tapioca com molho de leite de coco, manjericão, erva doce, cogumelos, camarões, frango e vieiras.O preço média de cada é de 14 euros.
O segundo, Kleinschmecker, usa apenas produtos locais e da estação, com menu alterado diariamente, focando em cozinha de ingrediente: só se usa o que está melhor no dia.
Comi um estupendo Tagliatelle artesanal ao molho de parmesão com trufas alemãs de verão (17 euros) e um primoroso Bavarian Steak Tartare. O menu executivo – que compreende principal, sobremesa e café – sai por 15 euros.
Infelizmente fiquei poucos dias em Munique, no meu retorno do Vale do Alto Reno. Felizmente voltarei para lá em agosto, com mais tempo. E mais fome.
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