Mendoza é o lar de diversas vinícolas imensas, multinacionais, famosas e que produzem milhares de garrafas de centenas de rótulos – alguns bons, outros nem tanto. A estrutura dessas empresas é tecnologicamente invejável. Os prédios em que são construídas, impressionantes. E eu não poderia me importar menos com isso.
Há algum tempo venho me interessando mais e mais por produções familiares, orgânicas e/ou biodinâmicas porque me aterroriza a quantidade de químicos nocivos que temos comido e bebido nas últimas décadas, na maior parte das vezes sem mesmo nor darmos conta.
Não bastasse o Brasil ser o maior consumidor mundial de agrotóxico, pouquíssimo se fala de todo o lixo que pode, legalmente, ser colocado em nossos alimentos e no vinho, para “corrigi-lo”. Ou seja: além de plantar a uva com quantidades exorbitantes de pesticida, ainda é permitido o uso de cerca de cinquenta aditivos que incluem antociano em pó pra dar cor, glicerina para dar corpo, arsênico, metanol… E não pense que são apenas os baratinhos, não. Uma taça de vinho tinto ao dia já não parece mais tão saudável, a menos que você saiba O QUE há dentro do vinho que está tomando.
Por tudo isso foi tão interessante a visita a pequenos produtores em Mendoza, muitos deles orgânicos certificados ou orgânicos sem certificação – como no Brasil, o processo para obter o selo na Argentina é demorado e caro. Porque informação é o maior poder que se pode ter.
O belo roteiro foi montado pela rede de wine bars Los Mendozitos – criada pelo jornalista André Fischer, o publicitário Danilo Janjacomo e pelo mendocino Ariel Kogan. Batizado de Mendoza con Nosotros, estará à venda no segundo semestre de 2015 para quem quiser conhecer essas pequenas jóias argentinas.
Os sócios dos Los Mendozitos – hoje possuem 8 veículos que circulam em eventos por São Paulo (interior e litoral), Rio de Janeiro e Curitiba – fazem um belo trabalho de prospecção de pequenos vinicultores da região. Trazem para o Brasil bons rótulos, geralmente desconhecidos por aqui, a preços bacanas e ainda estimulam o negócio de gente que trata a bebida com amor, assim como a terra e natureza, caso da Família Cecchin.
Alberto Cecchin é um homem especial, quase um E.T. no se que refere a paixão pela terra, comprometimento com a cadeia de produção e respeito pelo que oferece a seus consumidores. Terceira geração da família a cultivar vinhedos na região de Maipú, e pioneiro em produção de vinhos orgânicos na área, Alberto fala com orgulho sobre jamais ter colocado um grama de agrotóxico no solo. Sobre como suas uvas e azeitonas são transformadas em vinhos e azeites sem serem “corrigidas” por químicos.
Sobre como somos o que comemos e seremos o que fazemos ao mundo a nossa volta.
“Uma fruta bem cuidada, nem nutrida, equilibrada, produz bons derivados. Mas muitos acham mais fácil usar agrotóxicos, enfraquecer a terra, empobrecer a fruta e depois acertar tudo com dezenas de aditivos”, diz. “Pode ser mais fácil, mas não é sustentável e nem moral”.
Além da beleza de passear pela fazenda, é delicioso almoçar na Bodega Cecchin, ao ar livre, perto das videiras. Comida simples e saborosa – e as melhores empadas de carne que já provei. Isso sem falar no pudim de leite com laranja e em seu Malbec sem sulfito. Ímpar, a fruta brilha como nunca vi.
Com reserva antecipada, a Cecchin oferece aula de de cozinha para grupos. Você colhe o que for possível, prepara, põe a mesa, abre o vinho e… é feliz.
A Família Mayol, em Tupungato, também produz vinhos orgânicos, porém sem selo: de acordo com o proprietário e wine maker, Matias Mayol, o valor a ser pago pelo selo é absurdamente alto e impactaria no preço final do vinho.
A caminho da produção orgânica e já usando a menor quantidade de químicos possível está a Huentala Wines, vinícola de propriedade da família detentora da marca Sheraton na Argentina.
Cercados por montanhas – que, no inverno, cobrem-se de neve -, os vinhedos da Huentala abrigam uma linda construção na qual funciona o restaurante e pousada. “Pousada” é modo de dizer: são apenas dois quartos imersos na natureza, no silêncio e na paz de espírito. Mas você pode agendar seu almoço por lá e provar os primeiros vinhos 100% Malbec da marca, lançados neste mês e assinados anualmente por um grande wine maker do mundo.
Foram apenas 3 dias em Mendoza mas o suficiente para notar que há muito mais para ver, aprender e beber.
Se você, como eu, se empolgar e trouxer na mala todo o vinho (no meu caso, natural) que puder, aviso: brasileiros podem despachar apenas 20 quilos no aeroporto, o que não dá nem 10 garrafas…
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