Estava viajando a trabalho – visitas às destilarias de Ketel One, na Holanda, e de Ciroc, na França, que em breve estarão no Gastrolândia – e, na volta, decidi ficar cinco dias em Paris. Este tempo vai ser de descanso, caminhadas e boa comida, porém sem neurose de ingerir o mundo e voltar pro Brasil com o formato dele… Ao contrário, quero comer em poucos lugares, altamente recomendados por amigos gourmands e chefs que me passaram listas impagáveis. Dois deles já foram “ticados” com louvor.
Ontem, domingo, almocei com amigos no Le Comptoir, minúscula e disputadíssima – inclusive por franceses- casa do chef Yves Camdeborde. Cheguei às 11h20 da manhã para… guardar lugar na fila. Pois é, eles não aceitam reservas. A frente do restaurante fica parecendo a do Mocotó: dezenas de pessoas se amontoando na calçada, debaixo do sol, olhando salivantemente para quem tem o prazer de estar sentado e garfando um pedaço de comida. Vale o mico? Vale, muito. Por cerca de 60 euros por pessoa (sem bebida) é possível provar receitas francesas mais leves que as tradicionais (ou seja, menos manteiga), repletas de vegetais frescos e crocantes, além de embutidos e terrines artesanais dignos de palmas, caso do de Boudin noir (feito com carne e miúdos de porco).
Outro prato que me causou um gemido involuntário foi o de raviólis de lagosta azul coberto pelo melhor bisque (no caso, cremoso e em forma de espuma) que provei – até agora – na existência. Todo o mar estava ali, em sua melhor versão. Palmas também para o tartar bovino praticamente sem tempero e coberto por diversos mini legumes perfeitos e vinagrete defumado.
Se sua tara é foie gras, peça o burger de carne e foie: a beleza com untuosidade perfeita, vem entre duas fatias de pão crocante e quente pão de textura parecida com a de baguete. Delicioso. Para encerrar, mousse-nuvem de banana, pedaços da fruta e coulis de chocolate com crocante de chocolate.
O La Pascade, por sua vez, tem valor bem mais baixo (cerca de 30 euros por pessoa, sem bebida), não é badaladaço, não tem fila e é novo. Comandado pelo chef Alexandre Bourdas, tem como especialidade a pascade, tipo de panqueca grossa feita com ovos, farinha de cereais e creme de leite, ligeiramente caramelizada, que serve de “prato” para as criações do cozinheiro. Tudo lá é servido dentro da pascade, bem feitíssima, saborosa e nada pesado, como pode soar (esqueça a comparação com a sopa que vem dentro do pão italiano, tá?!).
Meu almoço foi um pascade com lentilhas verdes, pesto, fromage blanc, mozzarella, jamón e tomatinhos e, como sobremesa, algo que deu vontade de enfiar até a cara, de tão primoroso o equilíbrio de acidez, dulçor e sedosidade: pascade doce recheado com mousse de grapefruit e azeite de oliva, pedaços de grapefruit, calda toffee e biscoitos crocantes de amêndoas recheados com o mesmo mousse.
Refeição rápida, gostosa, simples, sem estresse – algo que procuro muito em viagens. Ah, se você for lá, prove por mim a pascade de aspargos brancos e verdes, emulsão de creme azedo, raiz forte, cebolas picantes e agrião, tá?
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