Rothenburg ob der Tauber, uma das cidades medievais mais bem preservadas da Europa, fica a apenas duas horas de carro de Munique, num caminho repleto de plantações de lúpulo e campos de verdes idílicos. Caminhar sobre os 3,5 km de extensão de sua muralha, construída à partir de 1274, percorrendo o mesmo trajeto feito pelos antigos sentinelas, é como entrar de carne e osso em um episódio de Game Of Thrones.
Fazia tempo que não me sentia tão conectada com a história como quando parei em uma de suas torres e fiquei ali, ouvindo o silêncio quebrado apenas pelo canto dos pássaros enquanto observava a Igreja de St. James, cuja construção terminou em 1485.
Contudo, o termo ‘parada no tempo’ não se aplica a Rothenburg ob der Tauber (que significa Rotemburgo Sobre o Tauber, rio que corre por ela). De forma alguma. A cidade, cuja população gira em torno de 15 mil habitantes, atrai anualmente quase tantos turistas quanto o Brasil: em 2017, foram 6 milhões (o Brasil todo recebeu 6,5 milhões). Há algumas décadas Rothenburg notou que seu passado é o que faz seu presente e garante seu futuro: ao mesmo tempo em que séculos de tradição são valorizados com devoção, o novo é abraçado.
Rothenburg ob der Tauber é a terra do vinho, especialmente do Riesling. Dos pães de grãos integrais. Da Bola de Neve, seu doce típico.
Rothenburg ob der Tauber é a terra da loja de artigos de Natal mais famosa do planeta, a Käthe Wohlfahrt. Aberta o ano todo, reúne milhares de enfeites produzidos por dezenas de artesãos.
Rothenburg ob der Tauber é a terra do tempo desacelerado.
Rothenburg é também a terra de uma das figuras mais cativantes que já conheci: Christian Mittermeier. Um dos chefs mais reconhecidos da Alemanha, ganhou duas estrelas Michelin ao longo de sua carreira. Mas não era alta gastronomia o que o fazia feliz: queria mesmo trabalhar com ingredientes da sua terra, do jeito que sentisse vontade, sem amarras, sem limitações.
Fechou sua casa de alta gastronomia e foi cuidar de seu hotel, o Villa Mittermeier, e do restaurante dentro dele. Desejando envolver-se cada vez mais com a comunidade, com o processo de produção do que servia e com a terra, comprou uma vinícola no Vale do Tauber e batizou-a de Tauberhase GbR. Atualmente, boa parte dela está em processo de tornar-se orgânica.
Em maio deste ano inaugurou o Mittermeier Alter Ego: instalado ao lado do Villa Mittermeier, seu novo hotel é mais moderno tanto na decoração quanto na proposta de abolir recepção e ter cozinha comunitária à disposição dos hóspedes (as refeições e check in são feitos no Villa Mittermeier).
E foi no Villa Mittermeier que fiz a melhor refeição da viagem. Técnicas francesas e moleculares aplicadas a insumos sazonais e locais em releituras de receitas clássicas da região criaram uma sucessão de felicidade a cada prato. Sabores intensos, puros, limpos, potentes. Ainda pude provar o estupendo pão de farro com erva doce que ajudei o chef executivo da casa, Thorsten Hauk, a preparar durante a tarde (aulas de culinárias podem ser reservadas pelos hóspedes).
Vinho da região + comida tradicional por 20 euros
Apesar de conhecermos a Alemanha pelas cervejas, algumas regiões do país produzem bons vinhos, especialmente brancos. É o caso de Rothenburg ob der Tauber. Para promover os vinhos locais, o departamento de turismo da cidade criou o Taste of Tauber, ação contínua na qual 11 restaurantes oferecem degustação de três vinhos harmonizada com três petiscos por 20 euros/pessoa. Para conhecer os endereços participantes, clique AQUI
Bola de Neve: típica, centenária, calórica e onipresente.
A comida mais típica de Rothenburg ob der Tauber é, sem dúvida, a Bola de Neve. Produzida há mais de 300 anos apenas em ocasiões festivas como casamentos, hoje a Bola de Neve é encontrada na cidade toda, o ano inteiro, em tamanhos grande ou pequeno, bem e mal feita. A receita básica leva farinha de trigo, schnapss (aguardente) de ameixa, gema de ovo, manteiga e açúcar. Com isso faz-se uma massa que é colocada num molde em formato de bola que, então, é mergulhado em óleo vegetal (ou banha de porco). Depois de frita leva cobertura de açúcar de confeiteiro, chocolate, marzipã…
Eu recomendo provar a da Bakerei Strifller. A padaria, sob comando da sexta geração da mesma família, produz dezenas de tipos de pães alemães deliciosamente integrais e doces – inclusive a Bola de Neve – seguindo as receitas clássicas.
O que conhecer e comer em Rothenburg ob der Tauber:
por Christian Mittermeier
Não poderia ter alguém mais indicado para dar dicas de Rothenburg para um turista do que um chef de cozinha que nasceu e vive na cidade. Para Christian, um dos passeios mais bonitos é a rota dos antigos moinhos d’água pelo Vale do Tauber. Alugando um carro é possível “visitar os moinhos históricos e tentar entender a conexão entre o rio (que sempre deu vida a região e que possibilitava, nos tempos antigos, a produção de farinha) e a cidade, aonde os pães eram assados”, diz. Para conhecer a região, siga o caminho indicado como ‘Mühlenweg’.
E gastronomicamente, o que é imperdível? “Sloe é o produto mais fascinante do Vale do Tauber“, diz, de pronto.
Sloe- também conhecida como Blacktorn- é uma fruta de sabor parecido ao da ameixa, porém com notas muito mais adstringentes, usada para produção de compotas, geleias e destilados como Sloe Gin (Inglaterra), Pacharán (Espanha) e Prunelle (França).
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