A Sérvia não é exatamente um destino usual para turistas brasileiros.
O país é quase completo desconhecido para nós: ouvimos falar nele, quando muito, na época da Copa do Mundo. Eu mesma sabia pouca coisa sobre a Sérvia até ganhar o Prêmio Europa da Comunicação, em 2018, e ter como premiação uma viagem para lá: neste instante, passei a me interessar por tudo que dizia respeito a este país da região balcânica, que inclui Albânia, Bósnia Herzegovina, Bulgária, Croácia, Eslovênia, Grécia, Macedônia, Montenegro, Romênia e parte europeia da Turquia.
Os Bálcãs são uma região de história e cultura tão ricas quanto conturbadas e para entender de verdade o que se passou por lá nos últimos séculos é preciso um mergulho beeeeeem profundo. Então, para facilitar, vou me ater a informações práticas:
- É um destino BEM barato para brasileiros. A moeda, o dinar, é desvalorizado até perante o real. Uma cerveja de 500 ml, no mercado, custa cerca de 4 reais; uma refeição para duas pessoas num excelente restaurante, incluindo garrafa de vinho, sai por cerca de 200 reais. Dá pra fazer a festa.
- A cultura gastronômica é profundamente carnívora. Carnes estão presentes, em abundância, em todas as refeições, de dezenas de formas. Portanto, não é o destino de sonhos de vegetarianos e veganos…
- A bebida nacional é a rakija (na real, regional, porque também bebe-se pacas em Montenegro). Destilado de frutas com percentual alcoólico entre 30% e 40%, vai bem até de manhã, entre um gole e outro de café (eeeeita!). As frutas mais usadas para sua produção são a abundante ameixa (Šljivovica, Kajsijevača), pêssego (Dunjevača) e pera (Vilijamovka), mas há também rakija de cereja, framboesa, laranja e mel, entre outras.
- Desencane da manteiga e entregue-se ao kajmac, o delicioso fermentado de nata de leite e sal. Quanto mais curado/antigo, mais potente será. Come-se com pão, com carne, com batata. Com tudo.
- Sérvios amam pimentão: diversas variedades, cores, tamanhos, preparos. Cru, fermentado, picante, doce, recheado com queijo, em forma de picles e, acima de tudo, como ingrediente principal do ajvar. Segundo o que alguns sérvios me disseram, é inadmissível falta ajvar em casa; é como paulista sem arroz e feijão ou paraense sem farinha de mandioca. Ajvar é uma pasta a base de pimentão vermelho longo (bell pepper) assado em forno a lenha, descascado, cortado fininho, misturado a óleo, berinjela e temperos. Cada família tem sua receita – e ela é guardada como segredo total. Prefiro o picante (ljuti), mas há o blagi, mais manso.
- Pode-se fumar em todo os lugares: no restaurante, no bar, no hotel, na sua cara. Sendo assim, ficar ‘defumado’ é uma constante. A experiência fica mais amena no verão, já que os sérvios curtem bastante mesas ao ar livre.
Apesar de focar minha estada na capital, Belgrado, tive um rápida e bela experiência nas montanhas sérvias, visto que vim de carro de Montenegro, cruzando o centro do país. No inverno, são nevadas, imponentes, repletas de estações de ski e com temperaturas que chegam a 15 graus negativos (eu peguei uma manhã com sensação de menos 23!). Um dos destinos de inverno mais populares é Zlatibor – vale conhecer o mercado da cidade -, que fica não muito distante do parque natural Mokra Gora, no qual foi construída a curiosíssima vila Drvengrad (vide box).
Tive pouco mais de três dias em Belgrado, mas consegui fazer uma lista bem bacaninha de lugares para comer bem e comprar comida. Lá vai:
Manufaktura
Comida sérvia tradicional com pegada contemporânea, em ambiente moderno.
Druid Bar
Sem placa na porta. Rua pequena, escura e residencial. Quando você nota um pequeno símbolo perto ao batente a gira a maçaneta, entra num mundo de jazz e excelentes coquetéis. Speakyeasy na sua mais pura forma. Sempre bom reservar – é minúsculo – e ser discreto com fotos, porque o pessoal lá quer que você viva o momento presente e fica meio bravo se o telefone tem mais atenção do que o drinque.
Lebovski Pekara
A panificação dos países balcânicos é interessantíssima. Por conta das influências de diversos povos ao longo de séculos, as massas folhadas são tão bem feitas quanto pães integrais e quanto doces com amêndoas. Essa pequena padaria (pekara) fica numa área residencial, sem quase lugares para sentar, e vende algumas das melhores burekas que já provei.
Vale passar, comprar um montão de pães diferentes e comer com kajmac no hotel.
Mala Fabrika Ukusa
O melhor restaurante da viagem, sem margem de dúvida. Receitas sérvias com leve modernidade e execução primorosa. Boa seleção de vinhos sérvios. Vale muito.
Olivia Market
Graciosa loja de produtos orgânicos e vinhos naturais sérvios: coisa raríssima de se encontrar! Para mim, um tremendo parque de diversões. Minha mala ganhou vários quilos depois que passei por lá….
Os atendentes falam excelente inglês e explicam tudo o que você quiser saber sobre os produtos.
Mercado Kalenic
Aquele programão absolutamente imperdível, especialmente aos sábados e domingos, quando todos os feirantes estão por lá. Frutas, verduras, carnes, queijos, bebidas e tudo aquilo que me faz feliz.
Restoran Hanan
Comida sírio-libanesa de lamber os beiços e abraçar o cozinheiro de alegria. Não perca por nada a muhammara.
Drvengrad: a cidade erguida pelo cineasta Emir Kusturica
Erguida como cidade cenográfica para o filme Life is a Miracle, do cineasta sérvio Emir Kusturica, Drvengrad tornou-se não apenas sua casa como também o hotel Mecavnik (a diária com pensão completa custa menos de 200 reais por pessoa), restaurante, teatro, ski resort e sede anual de seu festival de cinema, Kustendorf.
Ali, tudo é feito da maneira mais natural possível – o aquecimento dos ambientes é a lenha, os ingredientes da comida são orgânicos – e os doces do café Corkan refletem bem a magia do artesanato combinado com bons insumos. São deliciosos.
Mesmo não se hospedando, é possível agendar visitas.
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