Brasileiros amam a França. Por ano, centenas de milhares de nós vamos para lá, especialmente para Paris. Fato que compreendo completamente: Paris é uma das minhas cidades preferidas no planeta. Comida, beleza, história, arquitetura, sossego ou agito, cultura, comida, comida, comida…
Eu nunca havia cogitado trocar dois ou três dias na França por dois ou três dias na Suíça. Pouca gente cogita, aliás. Parece que a maioria das pessoas, quando se trata de viagem, opera em apenas dois modos: o “conhecer-o-máximo-de-cidades-no-mínimo-de-tempo” (no qual não me enquadro) e o “quero-sossego-e-poucos-destinos” (meu número!). Mas há um terceiro, que aprendi recentemente: “juntar-o-bom-com-o-ótimo”, também chamado por mim de “Combinado Franco-Suíço”.
França – Suíça em alta velocidade
Lausanne me ganhou por completo. Bastaram alguns dias por lá para voltar impregnada com as sensações causadas pelas paixões: suspiros, lembranças de bons momentos a todo instante, vontade de falar a respeito sempre que vê uma oportunidade.
A deslumbrante Lausanne, à beira do lago Genebra, fica a apenas 3h40 de TGV (trem de alta velocidade) de Paris – ou seja, dá tranquilamente para passar um final de semana por lá se suas férias estão esquematizadas na França. Mas, eu digo: passe mais do que 48 horas em Lausanne…
Aliás, o TGV liga rapidamente várias cidades francesas à suíças como Genebra-Lyon, Dijon-Zurique, Lausanne-Paris, Paris-Basileia, entre outras. O tempo de qualquer um desses percursos é inferior a 4 horas.
Voltando a Lausanne: assim que se chega a cidade, ainda dentro do trem, já é possível notar os vinhedos à beira lago e os alpes ao fundo. De matar de tão belo. Estes vinhedos também podem ser visitados a pé, com paradas para degustação nas pequenas vinícolas – a maioria, familiar – que tem 80% da sua produção focada na uva branca Chasselas. E cada passo dado é acompanhado pela paisagem serena do lago, onipresente em seus tons azuis-esverdeados. Querendo comprar alguns dos vinhos provados (ou para beber mais), vá a Vinorama, loja com centenas de rótulos produtores locais.
Longe da água, no centro da cidade, as chocolaterias dão até palpitação. Não deixe de provar os estupendos bombons e sorvetes da Blondel, marca que existe desde 1950. Na Durig comi excelente chocolate com especiarias, com adição de temperos e pimentas mexicanas – para melhorar, 100% da matéria-prima da marca é orgânica e fair trade, ou seja, não envolve nenhum tipo de trabalho escravo e/ou semiescravo, infelizmente bem comum no setor.
Lausanne-Dijon: conexão chocolate-mostarda
São apenas duas horas de TGV para sair da paz do lago de Lausanne para os vinhedos da Borgonha, na região entre Dijon e Beaune. Duas horas que levam o queijo Tomme, especialidade suíça de leite de vaca cru, e trazem os franceses Chaource e Epoisses. Duas horas que nos fazem sair da Chasselas e entrar na Pinot Noir e na Chardonnay.
Uma vez na região, não deixe de ir a alguma boa loja e/ou fábrica de um de seus produtos mais famosos, a mostarda. Por levar quantidade maior de grãos do que qualquer outra no mundo, seu sabor é inconfundivelmente mais potente. Na Edmond Fallot Moutardie encontra-se quase 30 variedades, das quais minhas preferidas são a com nozes, a com curry e a com aceto balsâmico. A famosíssima Maille também fica por ali.
Acorde cedo pelo menos um dia e passeie, sem pressa, no mercado Les Halles. Peixes e carnes fresquíssimos, frutas, verduras, queijos, meles, doces… Aquela festa e, pra mim, sempre um dos programas que mais amo quando viajo. Pare por uma meia hora e peça uma taça de vinho da região no wine-bar bem no meio do mercado – você nem precisa largar o saco de compras pra beber!
Ao redor dele funcionam vários restaurantes, entre os quais recomendo o DZ’Envies, com competente comida contemporânea com uso, primordialmente, de ingredientes sazonais e locais.
Ao lado de Dijon fica a pequena Beaune, conhecida com a capital do vinho da Borgonha. Por lá encontra-se diversos wine-bars, lojas com degustação, um restaurante que me proporcionou a melhor refeição da viagem e o hotel mais aconchegante do trajeto.
O restaurante é o Loiseau des Vignes, do falecido e celebrado chef Bernard Loiseau, que inspirou o personagem do cozinheiro de Ratatouille. O hotel, o Le Cep, instalado em dois prédios do século XVI.
Então, já sabe: indo pra França, “encaixe” a Suíça. E se pensa que a Suíça é muito cara, eu digo: Londres continua muuuuuito mais …
Comente
Seja bem-vindo, sua opinião é importante. Comentários ofensivos serão reprovados