Com exceção de Berlim e Munique (especialmente durante a Oktoberfest), a Alemanha não é um destino muito comum entre brasileiros. Os números oficiais apontam isso e eu própria corroboro esse dado: apesar de viajar um bocado, até ano passado jamais tinha pisado lá. Não sei a razão exata; o fato é que ela nunca esteve entre os meus top 5. Antes vinham França, Tailândia, Dinamarca, México…
Porém ao voltar de lá primeira vez (clique AQUI para ler), já estava apaixonada. Apaixonada pela segurança, gentileza e respeito ao próximo dos alemães. Pela cultura, comida e paisagens. Pela variedade de destinos deste país sobre o qual sabemos tão pouco – a começar por generalizarmos a gastronomia alemã em salsichões, chucrute, eisbein e batatas. Ledo engano: seria o mesmo que um gringo dizer que somos só feijoada e churrasco.
Este ano, decidi voltar a Alemanha, mas desejava algo que fugisse dos grandes centros, fosse gastronomicamente interessante e único, unisse natureza/relax/história. Me mandei pro Vale do Alto Reno. Não ache estranho se você jamais tiver ouvido falar: eu também não era exatamente íntima. Mas, olha, que viagem.
O rio de 1200 km de extensão corta Alemanha, Suíça e França, passando pela Alsácia, Floresta Negra, Palatinado do Sul e Basileia. Ao seu redor, cidades como Baden-Baden, Friburgo, Estrasburgo, Basel, Landau. Nelas, vinhedos que produzem excelentes brancos, basílicas datadas da idade média, frutas vermelhas e aspargos de chorar de tão deliciosos, spas de águas termais, a maior concentração de restaurantes com estrela Michelin do mundo. Para mim, um parque de diversões.
Dividirei o roteiro em 3 posts. Este, o primeiro, dedicado a Baden-Baden. No final, espero que você cogite mudar o destino das suas férias e dê um mergulho, profundo, no Reno. Eu dei e já estou com saudades.
Baden-Baden: encantadora, chique, verde e deliciosa
Tranquilidade. Mesmo depois de voar 12 horas de São Paulo a Munique e pegar 4 horas de trem de lá até Baden-Baden, foi tranquilidade que senti ao sair do táxi. Era domingo, um lindo domingo de verão, e as ruas calmas abrigavam turistas sem pressa; as milhares de flores dos imensos jardins reluziam, ainda mais coloridas, sob o sol; a filarmônica realizava um concerto ao ar livre na praça central. Tudo caminhava num ritmo acolhedoramente sereno.
Foi necessário permanecer alguns dias em Baden-Baden para sentir que essa calma é inerente a ela. A ex-estância de príncipes e escritores famosos continua ostentando sua delicada nobreza, o ar aristocrático. A Floresta Negra, em toda sua exuberância, manteve-se intacta. Seus renomados e relaxaaaaaantes spas de águas termais – criados pelos romanos há mais de dois mil anos – permanecem ali, em sua melhor forma. Alguns, como o Friedrichsbad, se atém a tradição de permitir que os banhos e saunas sejam feitos, obrigatoriamente, sem nenhuma roupa (mostrar o corpo, para os alemãs, não vem carregado com esse moralismo idiota dos latinos), inclusive nos dias mistos. Outros, como o Caracala, tem área reservada aos “com roupa de banho”.
Baden-Baden é chique. Podre de chique. Seu cassino é um dos mais deslumbrantes em que já entrei. A Festspielhaus, a segunda maior ópera e casa de concertos da Europa, também fica ali. A área da cidade é rodeada por campos de golfe e vinhedos. Possui um jardim linear estonteante de cerca de 3 quilômetros. Nas pequenas e antigas ruas, grifes das mais caras do planeta. E a comida… ah, a comida. Mesmo assim, é menos cara que Paris e beeem menos cara que Londres.
Minha primeira parada foi no Le Jardin de France, casa que ostenta uma estrela no Guia Michelin e responsável por uma das mais memoráveis refeições da minha vida (até agora, pelo menos). O nome é francês e as técnicas também, mas o restaurante comandado pelo chef Stéphan Bernhard tem como objetivo trazer os melhores e mais perfeitos ingredientes sazonais da região em composições autorais.
O menu degustação (algo em torno de 110 euros por pessoa) começou com fresquíssimo tartar de peixe com ratatouille, lâmina de parmesão, pesto, coulis de páprica e brotos e incluiu também um estonteante e suculento filé alto de veado, cerejas recheadas com avelã, cogumelos moriles e quiche de grão-de-bico. Para encerrar, baba ao rum com framboesas locais e sorbet de limão e manjericão.
Por falar em doces, o Café König é imperdível. Dezenas de jóias da confeitaria alemã executadas com tamanha leveza (média de 5 euros cada). Tive a grande sorte de ir na época máxima de berries e provei tudo que pude com amoras, framboesas, morangos, groselhas. Peça dois ou três doces, um cappuccino, escolha uma das mesas na agradável área externa e seja feliz.
Ambientes agradáveis são pródigos em Baden-Baden: vá ao Weinstube Baldreit e verá. Instalado numa charmosérrima vielinha, este bar/restaurante especializado em vinhos da região tem suas mesas distribuídas num pequeno e belo pátio arborizado. Ao anoitecer, apenas as pequenas luzes das velas o iluminam. Mega romântico. No cardápio, diversas flammkuchen (pizza finíssima alemã) e pratos autorais como o suculento Foie gras salteado ao molho de vinho do Porto com cerejas e brioche e aspic de ervas e vitela com vinagrete de tomate, aceto balsâmico e batatas salteadas (12,80 euros).
Sobrando uma grana, vá DE QUALQUER MANEIRA ao hotel Brenner’s, um dos mais elegantes da Europa. Dentro dele, um tremendo spa de águas termais, restaurante com uma estrela Michelin (Park Restaurant) e jardins belíssimos.
O Wintergarten, restaurante defronte a esse jardim lindão, é mais barato que o Park e possui a mesma qualidade. Por cerca de 50 euros por pessoa é possível almoçar lindamente. Eu fui de queijo de cabra gratinado com mel da casa acompanhada de salada de aspargos brancos de entrada; principal, filé alto de vitela com molleja (timo) em crosta de pão e tomilho, batatas assadas e cogumelos morell; mousse de Champagne e iogurte artesanal com morango locais e sorvete de baunilha, como sobremesa. Adorável.
Baden-Baden é para contemplar, relaxar nos spas, caminhar, comer bem e assistir a vida passar com calma e beleza. Na boa, como precisamos disso…
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