Há anos tenho vontade de conhecer o México. Apesar de viajar um bocado, acabei indo para todos os cantos, menos para lá. Mês passado, finalmente conheci um pedacinho deste país. Então, danou-se: agora meu desejo de saber cada vez mais sobre a gastronomia mexicana foi multiplicado por 10.
Passei 8 dias na Riviera Nayarit, área de litoral pacífico que se estende por cerca de 300 quilômetros desde Puerto Vallarta. O motivo da minha ida foi o 21. Festival Gourmet Internacional (sobre o qual falarei em outro post), mas a razão do despertar do meu amor foi cada mordida que dei em receitas regionais, de tacos de lábio de boi vendidos em porta-malas de carros à pratos executados por chefes estrelados em restaurantes bacanudos. Dos melhores camarões ever à água de cacau. De aguachile à coquetel de tequila com pimentão amarelo.
A Riviera Nayarit possui praias/regiões bem distintas entre si. Quem quer hotéis de luxo, longas áreas de praias desertas vai para Punta de Mita e Litibú. Aqueles que procuram rusticidade charmosa, pequenas pousadas graciosas, restaurantes pé-na-areia pra ficar o dia todo na preguiça gostosa se dirige a San Francisco. Se a ideia é reunir a família toda num resort – inclusive com preços mais baixos -, Nuevo Vallarta é a pedida. Querendo curtir festas, comércio cool e animação, Sayulita. Tá sem grana? Bed and breakfast em Bucerías.
Para tornar mais fácil a leitura das dicas, dividi o material da viagem em dois posts; dentro deles, em regiões. Duvido que depois de lê-los você não vai ficar tão apaixonado quanto eu.
San Francisco
Se eu voltasse hoje para a Riviera Nayarit, seria aqui meu destino, no local chamado carinhosamente de San Pancho pelos moradores. Iria direto para o Hotel Cielo Rojo.
Pousada absolutamente charmosa, a Cielo Rojo tem um diferencial digno de palmas: um restaurante sustentável que serve ótima comida. Da cozinha saem apenas ingredientes regionais, sazonais, de pequenos produtores e, em sua maioria, orgânicos.
Tudo ali é preparado na hora, numa pequena cozinha aberta: deliciosas quesadillas de vegetais com broto de alfafa, abacate, frijol e menta; Nopales (cacto muito usado na alimentação mexicana) rancheros; panquecas de plátano com mel de abelha nativa; sucos verdes. Ali provei pela primeira vez o capomo, semente de árvore da região de sabor muito parecido ao do café, preparado da mesma forma, mas sem um pingo de cafeína. Garrei paixão e trouxe um pacote pro Brasil.
Sayulita
Ruas coloridas por bandeirolas, lojinhas, bares, sorveterias, restaurantes, hippies, moderninhos, praia cheia, famílias, casais: Sayulita é uma mistura divertida, tipo de lugar que precisa estar no roteiro, especialmente por conta dos endereços que comercializam o lindo artesanato da região.
A Galeria Tanana vende belíssimas peças dos dois tipos mais comuns de produção artesanal da Riviera Nayarit: Chaquira e Arte Huichol. A primeira trata-se de delicadíssimas peças de joalheria montadas com pequenas contas (miçangas), em graduações belíssimas de cor. A segunda também envolve o trabalho com contas, porém elas são colocadas uma a uma em peças de barro ou cerâmica em formato de animais. Tantos os animais quanto o padrão de cor possuem diferentes significados espirituais – isso é o que creem os Huicholes, grupo indígena que vive no alto das montanhas Sierra Madre.
Estando em Sayulita, dê uma passada na Wakika Heladeria e prove a verdadeira paleta mexicana. Por favor, faça isso. Sim, elas existem no México, mas não tem Nutella, leite condensado, brigadeiro ou nenhuma tranqueira de 2000 calorias no interior. Também não são atoladas de açúcar, chocolate, confeito. As paletas são compostas de fruta, água (ou leite) e um tico de açúcar – nada mais. Refrescantes e leves, como a que comi, com abacaxi, manga, pepino e pimenta.
Depois do passeio pelas ruas do povoado, pare para tomar um drink com raicilla (clique AQUI para saber o que é) e comer algo de frente par ao mar. O Don Pedro’s tem agradáveis mesas e comidinhas bem feitas. Relaxe – afinal você estará lá pra isso.
Litibú/ Punta Mita
Não vou negar que gostei bem de passar uns dias na área mais endinheirada da Riviera Nayarit, repleta de campos de golfe, resorts chiquérrimos e pouquíssima gente. Dormir e acordar com o barulhinho do mar e dos pássaros – e mais nada – não chega a ser algo digno de reclamação. Nem assistir a alguns dos pores do sol mais sensacionais da vida enquanto mergulhada na hidromassagem da sacada do meu quarto no hotel La Tranquila. Aliás, que belo hotel.
Ainda com áreas a serem construídas, o La Tranquila é um resort no melhor aspecto: tem infraestrutura, serviço afinado, piscinas bem cuidadas, áreas verdes impecáveis e NADA de atividades com monitores/animadores. A lei ali é o silêncio – meu tipo de lei.
E é nesta área da Riviera Nayarit que ficam dois dos restaurantes mais bacanas da viagem: Beach Club Eva Mandarina (excelentes coquetéis) e Mariscos Tino’s (excelente coquetéis E comida).
Para ir direto ao ponto: no Eva Mandarina, peça o Sangre Cora (mistura feliz de mezcal, infusão de flor de hibisco com vinho tinto e suco de cranberry) e os aguachiles. Parente do ceviche, o aguachile também é preparado com pescado marinado em suco de limão. A grande diferença é que esse suco é retirado depois de alguns minutos e levado ao liquidificador com pepino, chile e coentro. Então, volta ao pescado que ganha mais pedaços de pepino, coentro e cebola roxa. Picância nível 10 e bom demais.
No Mariscos Tino’s, o negócio são peixes e frutos do mar feitos na grelha E os coquetéis com raicilla. Não saia de lá sem tomar raicilla com arrayán, fruta da área, com borda de pimenta. Ah, sim, uma das coisas mais gostosas é comprar um potinho da onipresente pimenta não-tão-picante com sal e colocar em frutas e coquetéis.
Pertíssimo do Mariscos Tino’s saem os passeios de barco para as deslumbrantes Ilhas Marietas. Protegidas, abrigam mais de 20 espécies de pássaros e uma praia de embasbacar, a Escondida, alcançável apenas a nado, através de um buraco na rocha. Tem bastante gente – é um passeio famoso -, mas mesmo sendo turístico no sentido ‘multidão’ do termo, vale muito. Especialmente pelo show dos milhares de pássaros a voarem livres, sem medo.
E ainda tem muito, muito mais.
Comente
Seja bem-vindo, sua opinião é importante. Comentários ofensivos serão reprovados