Nápoles é caótica.
Nas infindáveis vielas, automóveis dividem espaço com transeuntes, lambretas, carrinhos de bebê, feiras. Nas ruas, mesmo havendo semáforos e faixas de pedestre, quem define a parada dos carros – com o próprio corpo – é quem atravessa. Nos táxis, velhos, é usual o motorista fumar, “esquecer” de ver o GPS, cobrar a mais e ainda conversar todo simpático durante todo o percurso. As pizzarias mais famosas – e não necessariamente as melhores -, como a Da Michele, possuem filiais não autorizadas com nomes engana turista: Nipote da Michele, Zio da Michele.
Nápoles tem um quê de Brasil, sem dúvida.
Mas mesmo quem não curte muito essa bagunça, como eu, vai apaixonar-se por Nápoles assim que der a primeira garfada. Ali, é difícil comer mal mesmo nos lugares mais “suspeitos”: a cultura gastronômica é centenária, entranhada, cotidiana. Alimentar-se bem é hábito e utilizar ingredientes sazonais, frescos, comprados quase diariamente no mercado, é padrão.
Em Nápoles aprende-se a importância de valorizar os pescadores que trazem, todos os dias, maravilhas do mar direto para o consumidor, sem atravessadores. Aprende-se que não é preciso pagar caro para fazer uma excelente refeição. Aprende-se que boa farinha e fermentação longa pode transformar o trigo (tão odiado atualmente, com o glúten sendo tratado feito o demônio) em sensacionais e aeradas pizzas, doces leves, massas saborosas.
Em breve você acompanhará nossa visita ao Moinho Caputo, entrevistas com os maiores mestres pizzaiolos e doceiros, entre outros vídeos, no meu novo canal do YouTube, o #PorTrásDaKG. Enquanto ele não estreia, aqui vai um pequeno guia para comer bem, muito bem, na bela Nápoles.
Pasticceria Sirica
A doceria napoletana é um capítulo belíssimo da gastronomia local. Tudo começa com farinha de boa qualidade, bom queijo e ovos (usados em diversos recheios), banha de porco (os folhados são todos feitos com ela e não com manteiga) e um confeiteiro de talento.
Na região metropolitana da cidade, longe do centro, fica o lugar mais sensacional para mergulhar na confeitaria regional: Pasticceria Sirica. Fundada e comandada pelo gentilíssimo Sabatino Sirica, que possui 50 anos de experiência no ofício, a pasticceria vale cada segundo de locomoção.
Vá com fome e prove o máximo possível de doces típicos produzidos artesanalmente e com resultados… maravilhosos. Não perca a Sfogliatella (massa folhada à mão recheada com ricota, sêmola, gemas, raspas de laranja), a babà au rhum (massa fofíssima mergulhada no rum e açúcar) e a Zepolla (massa choux coberta por creme de confeiteiro e amarena)
Leopoldo
Com várias unidades espalhadas pela cidade, e ar elegante, a Leopoldo vende bons doces como Babá, Pastiera di Grano, Sfogliatela e tortinhas. Se você tiver sorte de ir na época de fragollini di bosco, os moranguinhos selvagens, acabe-se de comer por que são deliciosos.
Gelateria Mennella
Sorveteria que não usa nenhum tipo de pasta industrial e produz todos os sabores desde o zero. Para quem é louco pelo estilo siciliano de tomar sorvete, como eu sou, é uma alegria: nada como colocar duas bolas de sorvete dentro de um brioche fofinho!
Pizzeria da Concettina ai Tre Santi
Em uma área meio perigosa da cidade – vá de táxi e chegue e saia de lá exatamente na frente da pizzaria, que é iluminada e segura -, a da Concenttina é um fenômeno, trazendo gente de todos os cantos e formando filas de espera de até duas horas. A razão disso é o talento do jovem pizzaiolo Ciro Oliva. Sugiro comer as pizzas fritas – tradicionais em Nápoles – com ricota cremosa e pancetta. De surtar de bom.
Se você quiser saber exatamente o que é a pizza napoletana, e todas suas peculiaridades, acesse AQUI o site da Associazone Verace Pizza Napoletana.
Pizzeria Salvo
As melhores pizzas que já comi na vida são servidas em uma das pizzarias de uma família com longa tradição no ofício, a Salvo. “De uma das” porque os proprietários, os irmãos Francesco e Salvatore Salvo, tem outro irmão que comanda A MAIS BADALADA pizzaria de Nápoles, a 50 Kaló, de Ciro Salvo (leia abaixo). Apesar de muito boa, a minha preferida continua sendo esta, a da dupla de fratelli.
Massa elástica na medida, saborosa, com borda areada, ingredientes de primeira. O cuidado com é tanto que usam 12 tipos de azeites – variedades de azeitonas distintas – para harmonizar perfeitamente com cada cobertura. A Salvo fica nos arredores de Nápoles e tem filas de espera constantes. A boa notícia é que abre para almoço e jantar e tem salão grande, para mais de 100 pessoas. Pegue um táxi e vá, mesmo.
Além das pizzas sensacionais, os tradicionalíssimos fritos são de perder a compostura. Originariamente comida dos pobres em tempos de escassez (reaproveitavam as sobras do almoço), os fritti são uma atração à parte. Na Salvo, peça o macarrão com queijo empanado e frito e o panzarotti, bolinho de massa de batata recheado com queijo.
50 Kaló di Ciro Salvo
Atual sensação de Nápoles, a 50 Kaló tem tanta fila, mas tanta fila, que a entrada parece a de uma balada e não a de uma pizzaria. São, em média, 3 horas de espera. Se vale? Olha, odeio esperar, mas é realmente uma experiência e tanto.
O pizzaiolo Ciro Salvo é fera no preparo de massas delicadas, leves, de borda aeradas e levemente tostadas que sustentam coberturas preparadas com excelentes ingredientes com selos de origem, como a de Carbonara,
marinara com escarola, papaccelle e provolone, ricota e mortadella… Por cerca de 10 euros compra-se a felicidade.
Pizzeria & Trattoria al 22
Sem vontade de gastar muito e nem sair do centro de Nápoles? Sua parada é esta. Comida rústica, saborosa, bem feita. Prove a Fresella – pão duro e seco consumido “umedecido” com tomate ou, no caso da foto, com azeite e limão – servido com polvo macio pacas, rúcula selvagem e azeitonas deliciosamente pouco salgadas e tenras da Sicília. O restaurante fica na região de uma das feiras de comida mais famosas e legais de Nápoles, a Pigna Secca.
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